10/08/18

Medium – Milhões em vapor de água e imagens para Têvê

em Opinião
Os incêndios ganham audiências e vendem jornais.
Os telejornais abrem com locutores trémulos de emoção e voz embargada, as primeiras páginas atiram-nos à cara: “Faltam meios aéreos para combate aos fogos!” – “Falhou o concurso para aluguer de meios aéreos!” – “O governo não dá dinheiro para os meios aéreos dos incêndios!”. Falta pouco para a nova rainha da demagogia, a doutora Cristas; anunciar: Acudam ao povo porque vamos morrer todos queimados!
A acreditar nas notícias, parece que o combate aos incêndios depende dos ditos “meios aéreos”. Os jornalistas e as pessoas que surgem a anunciar as desgraças deviam, se sérias, ler o “Manual Operacional – Emprego dos Meios Aéreos em Operações de Protecção Civil”, da ANPC, que está na Internet acessível ao público.
Quanto a helicópteros basta saber ler. Diz o referido Manual: “Para o combate ao incêndio, os helicópteros podem dispor de balde, transportado em carga suspensa, ou um tanque acoplado à fuselagem. Os meios aéreos não são responsáveis pela extinção dos incêndios. Os incêndios vencem-se no terreno, através da acção dos meios terrestres.”
Não é, pois, dos meios aéreos, que depende o combate aos incêndios. Pelo alarido parecia e parece que sim.
Nem podia ser, porque quanto a capacidades, um Helicóptero Bombardeiro Ligeiro (HEBL), tipo Ecureil, transporta 900 litros de água?—?equivalente a 4 banheiras domésticas, a 6 duches de 15 minutos. Um helicóptero pesado Kamov transporta 4 vezes mais.
Lançar estas quantidades de água sobre uma floresta com as copas das árvores a arder e o solo incandescente têm quatro efeitos: – provoca vapor de água; origina boas imagens para televisão; anima as populações “porque já andam aí os aéreos”; e, por fim, a mais importante: dá muito dinheiro a ganhar.
Nenhum destes resultados apaga incêndios. Mas é nestas quatro funções que qualquer governo gasta milhões (este ano entre os 50 e os 60 milhões) porque nenhum governo se atreve a enfrentar nem a demagogia, nem o embuste, nem os interesses dos “alugadores” dos meios aéreos. Seria um suicídio político.
O pagode paga de boamente porque com os fogos não se brinca!
RELATÓRIOS – Aquilo a que assistimos com os relatórios sobre incêndios é a exploração sensacionalista, mercantil e vil de relatórios para obter efeitos/lucros emocionais e políticos.
A frio, depois de conhecidos os resultados, devia ser feita uma análise serena para obter ensinamentos e não a condenação dos que se encontravam a enfrentar a situação. É assim que procedem as organizações interessadas em melhorar desempenhos e é assim que procedem os analistas sérios.
A comunicação social está mais interessada em alarido: “o relatório secreto!”, “o segredo escondido!”, “queremos saber o que se passou!”, sinónimos para: queremos sangue e queremos carne para atirar à matilha das audiências. O sistema judicial segue a mesma tática. Em vez de procurar os criminosos – os incendiários e os seus mandantes – acusa quem enfrentou o caos!
Curiosamente, quer a comunicação social quer o sistema judicial, tão lestos em culpar os que estiveram ao comando (os corpos de bombeiros) no momento do caos, nunca exigiram conhecer os relatórios das tomadas de decisões dos responsáveis pela evaporação de 8 mil milhões de euros no BPN, nem dos milhões do BANIF, do BPP, do BES, das PPP das estradas e da saúde, das privatizações da EDP, e das pontes sobre o Tejo em Lisboa, da ANA!
Na realidade, o alarido sobre estes relatórios e a culpabilização dos que enfrentaram o caos tem a intenção de fazer esquecer os responsáveis que causaram catástrofes.
(in facebook.com/carlos.matosgomes)